Refeitório

Três pasteis de flango

Refeitório

Eu fui até o refeitório, afim de saciar a fome que estava me assolando, o refeitório estava cheio, quase não havia lugar para sentar.
Eu procurei uma mesa vazia, mas a única que eu encontrei com vaga, já estava sendo ocupada por dois semideuses. Eu me sentei na frente dos dois, um parecia com um filho de Vênus, bonito e esguio, deveria estar na casa dos trinta anos, e ser um instrutor no acampamento. O outro, não tirou os olhos de um jornal nem por um momento, não pude identificar o que ele era.
Eu coloquei a mão esquerda em cima da mesa, e a direita no meu cabelo. O filho de Vênus olhou para os meus olhos, lançou-me um sorriso de canto, e colocou a sua mão sobre a minha. Eu rapidamente olhei para a mão dele sobre a minha, mas logo desviei o olhar para as mãos, agarrei a mão dele com a minha mão direita, a levantei suavemente, e tirei a minha outro mão de baixo. Levante-me desajeitadamente, saindo do espaço entre o banco e a mesa, com um pouco de vergonha, tropecei no banco, e finalmente consegui me desvencilhar do cerco entre o leitor de jornal e o estuprador de jovens garotos.
[...]
Eu olhei em volta, e pude perceber que não havia mais nenhum lugar para se sentar, percebi também que alguém havia ocupado o meu antigo lugar.
-Pobre garoto – Pensei indo comigo mesmo.
Depois de um tempo eu desisti de procurar um lugar, e me sentei em um canto isolado, entre a porta dos fundos e uma parede que carregava alguns quadros com pinturas de legionários e antigas profecias.
Uma Aurae apareceu para me atender, ela era bonita, com cabelos loiros e olhos azuis tão claros quanto o sol.
-Do que precisa, Senhor? – Perguntou a Aurae sorridente, aumentando a intensidade do sorriso ao proferir as palavras.
-Preciso comer alguma coisa, saudável, de preferência, mas me contento com uma Aurae – Disse, rindo interiormente pelo que disse, mas mantendo a mesma seriedade exterior.
- Pode ser mais especifico? – Perguntou ela um tanto constrangida, e com certeza com menos boa vontade do que antes.
-Quer que eu especifique sobre Aurae que desejo? Bem, não sou muito criterioso, você serve -  Dessa vez eu não me aguentei, ri um pouco, mas depois de exatos três segundos recuperei a compostura, eu não sabia que era tão divertido ir ao refeitório.
Ela com certeza havia ficado irritada, estava corada, e com os dentes rangidos, a atendente bufou, como se pensasse: Última chance...
-O que você deseja comer?
-Um pastel – Disse a primeira coisa que veio a minha mente, de fato eu não estava mais muito interessado com a comida.
-De carne ou frango – Disse ela sacando uma caneta e anotando em um bloco de notas.
-Da última vez que eu chequei, frango ainda era carne, a não ser que mudaram, desde os últimos tempos, não estou muito atualizado sobre os novos acordos ortográficos.
- Stulte smartass – Falou a Aurae em uma língua que eu logo identificou como latim, a mais morta das línguas, que por sinal, eu não era tão bom quanto os outros campistas.
-Também te amo, amor. Agora anota aí, 3 pasteis de frango, um suco de laranja e uma Aurae – Uma sombra de sorriso passou pelo meu rosto, mas logo seu maxilar enrijeceu – Não, não. Não precisa anotar sobre a Aurae, tenho certeza que não vai esquecer.
A Aurae murmurou mais alguma coisa em latim, mas dessa vez eu não entendi o que era.
[...]
Uma Aurae apareceu para me trazer os alimentos, essa, porém, era bem mais velha, e não parecia tão simpática, então do mesmo modo, eu não seria tão simpático.
Ela me entregou a bandeja, a qual eu peguei e coloquei ao meu lado, mordendo o pastel com entusiasmo.
-Mas alguma coisa? – Perguntou ela com uma voz tão áspera quanto o som de uma lâmina cortando a superfície de uma mesa.
-Eu quero uma taça de vinha – Respondi dando mais uma mordida.
-Você não tem idade para... –Interrompeu quando viu que eu estava com as minha espada em punhos, a Aurae mais velha se foi, e logo voltou me entregando uma taça de vinho.
Eu a bebi com um único gole.
-Traga a garrafa – No início eu estava até me divertindo com toda aquela situação, mas nessa hora eu já havia enjoado das conversas engraçadinhas, e entretido com o vinho.
[...]
Assim que eu recebi a garrafa, eu a virei na boca, e em poucos segundos, o conteúdo que estava pela metade, havia se esgotado.
Eu me levantei meio tonto, e fui até a despensa, agarrando uma garrafa de rum, uma de vodca e uma de whisky, uma aurae tentou argumentar, mas a que havia me atendido primeiro, assentiu negativamente com a cabeça, fazendo a outra desistir.
Eu saí do refeitório, e fui até a árvore mais próxima, sentei-me me escorando, e abri a primeira garrafa.