Sorveteria da tia Elsa

Nova Roma
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Sorveteria da Elsa

Uma palavra foi suficiente para fazer Beatrice atravessar as fronteiras da legião e ir direto para Nova Roma.
Sorvete.
Beatrice ansiava, mais do que tudo no mundo, por aquelas delícias congeladas que seu avô sempre lhe dera em sua infância, mais ainda quando se tratava de sorvete de limão. Por isso, quando atravessou a porta de vidro da sorveteria que nem se permitiu ler o nome, a legionária caminhou diretamente até o balcão e fez seu pedido para a jovem loira.

Daughter of Plutão

Emanuelle estava gostando parcialmente das ruas movimentadas de Nova Roma. Havia muito tempo desde que convivera em uma comunidade, se bem que jamais realmente vivera em uma.
Seus olhos foram atraídos por uma construção onde um grande letreiro a deixava curiosa. Sorveteria da tia Elsa. Ok, mas o que era uma sorveteria? Era naquelas horas que se arrependia severamente por jamais ter entrado em lugares como aquele quando havia tido a chance.
O lugar estava cheio, que a surpreendeu. O que será que a tal de Tia Elsa vendia, ela não sabia, mas parecia agradar boa parte de quem vivia ali. Sentou-se ao lado de uma garota de longos cabelos negros, que já havia visto na primeira coorte. Não estava interessada em conversar com ela, portanto apenas puxou um cardápio aos olhos e tentou decifrar as palavras. Ainda era muito complicado ler.
—Sorvete?—Disse a garota em dúvida— Ta ai um nome engraçado. E olha só tem diversos sabores. Engraçado, muito engraçado.

A filha de Plutão arqueou uma sobrancelha para a garota recém-chegada em sua mesa. Beatrice se lembrava vagamente da garota, apenas de tê-la vista entre os outros legionários, mas assim como fazia com os demais, nunca conversara com ela e também não tinha a intenção de fazer isso agora.
Isso se não fosse as estranhas palavras da semideusa.
— Você não sabe o que é sorvete? — perguntou Beatrice, incapaz de conter sua surpresa.

Daughter of Plutão

Quando a morena se pronunciou a Emma, ela conteve um riso baixo. Seus olhos passaram pelos diversos sabores, tentando escolher qual deles experimentaria pela primeira vez. Esperava, do fundo do coração, que não estivesse tomando uma decisão que se arrependeria mais tarde. Não seria nada agradável terminar seu dia em um banheiro.
— Bem, não existe nenhum sorvete no meio do mar— Emanuelle falou, mais para si do que para a garota— Então princesa, você que é totalmente conhecedora de sorvetes. Qual desses eu devo experimentar?

Beatrice quase sorriu. Ironicamente, mas ainda assim era um sorriso. Havia alguma coisa sobre a loira ao seu lado que era engraçado. Ou diferente, talvez uma mistura dos dois.
Beatrice pensou por um momento qual sabor de sorvete seria melhor para se provar em uma primeira vez, a resposta era simples.
—Eu amo sorvete de limão. É o meu favorito e um dos melhores, na minha opinião. — afirmou —Você provavelmente deveria começar com baunilha ou chocolate. Talvez até com um de chiclete.
Deu de ombros, levando seu sorvete a boca.

Daughter of Plutão

A atendente não parecia nada contente em atender um bando de semideuses. Mesmo assim, Emanuelle escolhera um sorvete de baunilha. O nome era engraçado, e embora conhecesse baunilha, nunca havia experimentado seu gosto.
— Então, princesa, qual é o seu nome?— Emanuelle falou de forma neutra, enquanto coloca o pequeno pote azul em sua frente.
Emma olhou para aquelas bolinhas em tons caramelados. Não demorou muito para usar a colher e levar o sorvete a boca. Seus olhos fecharam-se quando a sensação gélida tomou conta de seu corpo. Deuses, se houvesse algum tipo de paraíso existente, Emanuelle estava rezando que lá existisse sorvete de baunilha pelo resta da eternidade.
— Vocês até que sabem cozinhar— Disse, colocando mais um pedaço em sua boca— Ou isso não é cozido? Julgando por estar gelado, creio eu que não. Mas sabe, a patrulha nunca realmente deixou que eu comprasse coisas da comunidade, embora eu já tenha roubado algumas maçãs do queridinho da Inglaterra, e tenha roubado tortas de uma casa na China. Mas sorvete, deuses, isso eu nem sabia que existia.

A garota era, definitivamente, muito engraça e um pouco ingênua. Parecia ser uma boa pessoa, não que isso importasse.
— Meu nome é Beatrice. E você?
Com uma olhada ao redor, Beatrice notou que o lugar continuava a encher e se moveu desconfortável. Não gostava de estar cercada de pessoas.
— Onde você vivia antes de vir para cá? Ou melhor, como?

Daughter of Plutão

Ela abriu um sorriso malicioso, jogando um pouco de sorvete para o alto.
—Emanuelle, mas chama só de Emma, por favor—Riu, se remexendo na cadeira um pouco. Se socializar também estava sendo algo novo para ela.
Observou os olhos azuis de Beatrice, ela parecia, de uma maneira muito estranha, confiável. Não que Emanuelle quisesse esconder algum fato de seu passado, mas tinha de tomar cuidado com o que falaria aos outros.
— Bem, eu vivia em todos os lugares— levou seus dedos em um cordão em seu pescoço, puxando-o de leve— Já ouviu falar em navios piratas? Bem, eu pertencia a um. Antes que você me chame de ladra, ou algo assim, saiba que...Não, eu não tenho nenhum ponto, eu pertenço ao mundo dos ladrões mesmo. Mas e você?

Beatrice sorriu um pouco para Ema, somente para ser cortês e levou mais um pouco do sorvete a boca, deixando-o derreter em sua língua e fechou os olhos ao sentir o sabor ácido do limão que nem mesmo o resto da sobremesa conseguia mascarar. Escutou a história da garota com atenção.
A filha de Plutão tinha pleno conhecimento de que semideuses tinham vidas complicadas e diferentes, mas a vida de Emanuele superava qualquer história sobre a qual tenha ouvido falar algum dia. Quem diria que a garota sentada a sua frente era uma pirata.
— Eu não iria te julgar. —Minha família é rica, eu digo, uma das mais ricas de toda a Europa, mas então eu fugi de casa, meu dinheiro acabou e eu tive que roubar para sobreviver. Eu posso não pertencer ao mundo dos ladrões, mas eu já estive lá, fille.

Daughter of Plutão

Europa havia sido um dos continentes mais bonitos que Emanuelle visitará. Os castelos, as torres, as famílias. Era como se o tempo estivesse estancado em uma única parte do mundo, e a beleza era muito mais significativa do que visual.
—Europa?—Ela sorriu. Era um sorriso amigável, mas havia um tom pervertido por trás — Meu navio já atrancou em uma cidade da França, sabe, aquela que tem aquela torre gigante. Havia uma casa bem bonita lá, e um quadro que valia um tesouro muito gratificante. Eu tentei passar pelas janelas, não tinha nem 9 anos na época. Me recordo de dois irmãos deitados em uma cama, achei eles são engraçadinho que acabei por ir embora. Não queria roubar gente da minha gente.
Emanuelle riu com a referencia do gente da minha gente, que aos seus nove anos, significava outras crianças da mesma idade.

A filha de Plutão realmente riu, reconhecendo a descrição simples de Emma. A sua casa na França era chata e monótoma, como todas as mansões da cidade e foi onde Beatrice mais odiou morar. Com exceção da sua própria casa, quando Pierre morreu.
— Eu tenho quase certeza de que essa era a minha casa. Você realmente deveria ter levado o quadro, era o favorito de minha mãe. Ela teria ficado louca. — comentou entre risada, imaginando a reação de Colette ao ver sua obra de arte retirada de seus domínios.

Daughter of Plutão

Sua risada ecoou por toda a sorveteria. O mundo havia se mostrado grande demais para alguém que navegava ao mar, mas agora ali, em terra firme, tudo parecia pequeno demais.
— Bem, me lembre de te cobrar esse quadro, por que ele era muito bonito—Seu rosto se desanimou ao perceber que o sorvete havia finalmente chegado ao fim — Acho interessante que compreenda como minha vida foi. Já vi boa parte do mundo, mas nenhuma como Nova Roma. Portanto não ache engraçado  se eu não conheça todos os termos que fale. Para mim, ainda vivemos na antiguidade.
Olhou para atendente, pensando seriamente se deveria pedir mais um sorvete. Não, melhor não, já estava viciada o suficiente, e queria manter sua estrutura estável.
— Talvez um dia queira ir comigo— Emanuelle sorriu— Claro que não sou mais bem-vinda no navio, mas podemos achar outro, só por uns dias. Como férias. Te mostraria lugares que você não acredita que podem existir.

Emma era como uma força da natureza, completamente o oposto de Beatrice e a garota meio que estava gostando disso.
— Tentarei não rir de seus temas colonos, eu ainda tenho dificuldade com a língua daqui. Acho que faremos uma pela dupla, então.
Beatrice suspirou, finalizando seu sorvete.
— Eu não me dou muito bem com o mar. Problemas com meu progenitor e Netuno.

Daughter of Plutão

Era primeira vez desde que chegara ao acampamento que o nome de Netuno havia sido mencionado. Emanuelle ainda não havia se acostumado com a ideia de que em algum lugar um Deus era seu pai.
— Esta arreigando para o mar?—Abriu um sorriso malicioso — Se vai andar comigo, princesa, não pode temer o mar. Digamos que meu pai seja o responsável por ele.
Continuou a mexer no pequeno cordão, até que resolvera o tirar do pescoço. Na ponta havia uma pedra azul pequena, que fazia par com outra mais escura. Emanuelle arrancou a pedra escura e a entrou nas mãos de Beatrice.
— Te conheci hoje, mas há algo em você que me chama atenção— Disse, colocando novamente seu cordão ao pescoço— É um simbolo, que não precisa temer o que meu pai fará quando estiver comigo, por que eu sou uma pirata, lembra? Eu não pertenço a lugar algum. Pode usar a pedra em um cordão, ou seja lá o que quiser fazer com ela.

Beatrice manteve toda a sua atenção focada no que Emma lhe falava e se levantou, com um sorriso verdadeiro em sua face. Isso era definitivamente inesperado. Pegou a pedra e a colocou como pingente no colar que seu avô tinha feito especialmente para ela.
— Você pode não pertencer a lugar algum, mas você pode chamar a Legião de sua casa, Emma. E a mim, de sua amiga.

Daughter of Plutão

Emanuelle se calou.
Os olhos vidrados na garota a sua frente. Amiga? Jamais havia tido uma amiga antes, ou alguém que pudesse realmente contar. Beatrice não parecia alguém de muitos amigos, de qualquer forma. Antes que fosse tomada por estranha, um sorriso gentil surgira em seus lábios.
— Bem, qualquer lugar que tenha sorvete é meu lar agora— Começou a rir, como sempre fazia quando estava nervosa.

Eu havia acabado de chegar no acampamento, literalmente, eu havia chegado no dia anterior e não havia feito nada além de treinar e treinar por horas a fio, por quê para mim a coisa mais importante era possuir força, força para lutar contra inimigos fortes, força para aproveitar a batalha, força para proteger as poucas pessoas que eu poderia considerar importantes para mim (O que no momento não existia) e força para eu não precisar me curvar para ninguém e seguir somente minha própria vontade.

Mas apesar de eu considerar que meu treino era uma das coisas mais importantes que eu tinha que fazer, também não podia negar a importância de algum descanso para relaxar meu corpo e mente e exatamente por esse motivo que eu havia decidido acordar aquele dia e tomar um sorvete. Então vesti uma calça jeans pretas, um par de coturnos negros e uma camisa baby look da mesma cor, um estilo simples, mas ainda assim arrumado o suficiente para eu não ter problemas caso encontrasse alguma garota no caminho da soverteria.

— Vamos ver o que me espera.

Já fazia alguns minutos que eu havia chegado na soverteria e havia perdido um Milk-Shake de chocolate recheado de vários M&M's e sentado na única mesa vazia da soverteria enquanto observava o ambiente ao meu redor curioso e até mesmo um pouco interessado em tudo aquilo.

Vários semideuses se sentavam em diversas mesas espalhadas pelo local, alguns conversam alegremente e outros sussurravam baixo, como se não quisessem ou tivessem medo que alguma pessoa escutasse suas palavras, no final todos tinham segredos e na maioria das vezes preferiam que a quantidade de pessoas que soubessem deles fosse o menor possível e foi enquanto eu me perdia em pensamentos sobre segredos e suas consequências que eu a vi entrando pela porta.

Colocando os pingos nos i's a garota era L-I-N-D-A, tudo bem que a minha opinião poderia está sendo afetada pela minha pequena queda (Do tamanho do tártaro) por ruivas, mas isso não vinha ao caso no momento, pois enquanto a garota andava em minha direção eu não pude evitar um pequeno sorriso rasgar meus lábios enquanto passava uma mão em meus cabelos loiros, uma mania que possuía quando ficava nervoso diante mulheres bonitas.

— Claro, seria um prazer ter a companhia de uma pessoa tão linda. Respondi com um sorriso de canto e chutei levemente a cardeira que estava a minha frente, fazendo com que a mesma fosse para trás, dando espaço o suficiente para que a ruiva se sentasse e me fizesse companhia. — Aliais, meu nome é Bell e o seu?

Caminhava descontraída pela via principal do acampamento Júpiter; os cabelos castanhos caiam em ondas pelos ombros, os olhos estavam radiantes naquele dia, embora a postura rígida e o semblante sério não combinasse com tal aspecto. Não se lembrava da última vez que deixara suas armas guardadas e saiam desprotegida, mas nada de adagas, espadas ou itens ofensivos. Trajava apenas a blusa roxa do acampamento por baixo da jaqueta, calças jeans preta surrada e tênis. O motivo era simples: estava caminhando para Nova Roma. O caminho não era longo, e em poucos minutos chegou ao seu destino.

Já tinha um objetivo em mente: a sorveteria da tia Elsa. Precisava de milk shake mais que tudo naquele momento. Pediu um com calda de morango, e com várias coisas adicionais, tudo que tinha o direito, e aguardou que seu pedido ficasse pronto. Depositou os denários na mão da atendente simpática ao pegar seu milk shake, sentindo sua boca encher-se d’água só de analisar o que tinha em mãos. Sentou-se numa mesinha disponível na calçada, e ficou a observar o ambiente até se cansar, levantar-se e se retirar da famosa sorveteria para passear pelas ruas de Nova Roma.