Colina

Nunca havia sentido tanto frio na minha vida, talvez a madrugada fosse um castigo divino para mim, é mais fácil atribuir meu azar agora que tenho noção de ser filho de um deus grego, provavelmente existe um que seja o dono da má sorte. A brisa gélida tocava meu corpo e aumentava ainda mais meu incômodo graças ao suor que percorria toda minha pele, minha blusa cinza estava ensopada de suor, meu rosto sujo de fuligem e terra, minha calça rasgada e não trazia mais nada comigo, apenas o desespero para fugir da besta, aquela fera poderia estar no meu encalço ainda....

Quem me trouxera ao mundo era uma incógnita, nunca tive mão ou pai, somente os responsáveis pelo orfanato Saint Agnes e um casal de latinos que tentou a sorte comigo por uma semana, nem deu tempo de chama-los de parentes já que não aguentaram meu ritmo acelerado de vida e também de pesadelos, a forma que eu via o mundo era tão diferente que nunca pensei que a explicação fosse que eu vejo a verdade e os outros captam tudo turvo por mágica, todavia eu que tive que frequentar psiquiatra. Só de me lembrar disso sentia mais arrepios...

Subir a colina não foi difícil, por mais pesada e descompassada que fosse minha respiração pela corrida desde a beirada da estrada, passando por uma trilha aberta numa floresta na Baia de Long Island, eu sentia os músculos do corpo nos seus estados de exaustão, porém havia um rugido logo atrás, pelo jeito meu guia até esse local dito seguro sucumbira para me salvar, logo agora que me acostumei com suas pernas de bode. Usei minhas mãos como uma criatura quadrúpede para enfim alcançar o topo daquele relevo, vislumbrei sobre o ombro e o monstro se aproximava com passadas largas, só nessa bendita noite eu vira duas criaturas incríveis e tenebrosas ao mesmo tempo e essa não era menos apavorante, precisava fugir, tinha que seguir o conselho daquele jovem com pernas de ovino que me salvara da morte uma vez, deveria cruzar a linha de um pinheiro alto guardado por um dragão...

Mesmo receoso que fosse mentira eu avancei, havia apenas o brilho da Lua iluminando meu caminho e o ruído do gigante de apenas um olho, procurei em desespero pelo tal pinheiro e avistei um tronco grosso e imponente rodeado por uma serpente enorme que parecia estar dormindo, contudo acordou revelando os orbes amarelos como âmbar com fendas negras que eram seus olhos, temi aquilo, porém fora alertado, apenas corra e procure Quíron. Descer aquela colina foi uma mistura de sentimentos, percebi que o tal gigante não conseguira transpassar uma barreira invisível ou fantasma, ele apenas gritou tão alto que nem mesmo arrepios eram capazes de descrever, como fiquei aliviado naquele momento, ao passo que escorregava pelo gramado e percebia que havia mais problemas...

Xinguei seja lá qual for o deus que comanda o universo, havia duas mulheres voando em minha direção grasnindo com aves furiosas e aparentemente prontas para me matar, eu não tinha volta, eram as garras de um monstro de rapina ou um abraço esmagador de um humanoide com corpo desforme medindo cinco metros, precisava clamar por socorro, afinal aquele adolescente com sardas que me salvou duas vezes na mesma noite e se sacrificou por mim não iria morrer para me largar nas garras da morte, ou iria?
- Por favor, eu só quero ser salvo, um menino bode me trouxe para esse lugar, disse que era seguro, não me mate.- Gritei já pensando no que fazer, vi algumas casas próximas que eu poderia correr e me esconder lá. Todavia utro ser mágico surgiu, tinha corpo de equino da cintura para baixo enquanto para cima de seu quadril era um homem. Será que me jogaram num conto de fadas?
- Eu ouvi os gritos de um monstro, esse menino não deve ser punido Harpias.- Bradou o homem afugentando as mulheres monstro apenas com sua voz grossa e ríspida, porém sua face logo apresentou um ar acolhedor, eu senti que podai confiar nele.
- Só quero uma casa... não morrer.
- Terá isso e muito mais nesse acampamento. Seja bem vindo.

Daniel: 80XP e 80 dracmas.

ATT por mim mesmo, pq sim.